Psicologia nas Ruas

As cidades são o reflexo do paradoxo da vida moderna. Um aglomerado de pessoas em centros urbanos revelam as múltiplas camadas sociais e contraditórias existências que expõem uma singular beleza em uma topografia complexa. A quantidade de informações dispostas nos grandes centros urbanos torna difícil focar o olhar em um único aspecto. São prédios, casas, carros, árvores, rios, propagandas, pessoas. Uma justaposição e mistura de geografia, natureza, tecnologia e humanidade. Um espaço urbano e psicossocial, construído e constituído de vidas, emoções, representações e padrões comportamentais.

Entre o asfalto e arranha-céus modernos, ainda é possível encontrar pontes e palafitas. A cidade é a dicotomia. Ao lado da modernidade urbana é possível ainda encontrar uma casa com quintal e criação de animais que nos remete a um ambiente rural. Os rios são ruas da população ribeirinha, já dizia o poeta. Um significante compreendido para navegar na complexidade de divisões e linhas de segregação que caracterizam a região Amazônica e as grandes metrópoles que se erguem no meio da floresta. Somos parte de um ecossistema de grande complexidade, aonde uma rica e diversificada sociedade coexiste a partir de uma intrincada relação de poder entre Estado, cidadãos, cidade e a floresta.

 Não há palco mais adequado para o espetáculo da vida moderna do que nas ruas das cidades. A vida agitada dos grandes centros urbanos abrem nossos olhares e nos chamam atenção para alguns estímulos, outros passam despercebidos, quase invisíveis, outros chocam tanto que é preferível ignorar, uma escolha automatizada da negação da realidade urbana que circunscreve a vida moderna. Aqueles que possuem um olhar mais acurado e param suas vidas agitadas para observar o movimento das ruas percebem, há desamparo e angústia nas ruas das cidades. Estresse no trânsito, drogas, sofrimento psíquico, miséria, são uns dos poucos exemplos do que é possível ver. Se a cidade e suas intrínsecas características são complexas e dicotômicas, ela é o resultado de quem a constrói e constitui: os humanos.

O Projeto de extensão Psicologia nas Ruas surge da necessidade deste cenário complexo que é a cidade e seus habitantes olharem para a saúde mental como fator relevante de toda essa constituição moderna, buscando também prestar atenção às mazelas ignoradas pela sociedade. É necessário discutir essas chagas para o entendimento do ser humano como um todo e para a promoção da saúde, tanto física quanto mental .  O projeto então é idealizado por alunos de psicologia de Macapá (AP) e em 2015 foi fundado pelo psicólogo Altiere Duarte Ponciano Lima em conjunto com estes alunos, trabalhando o conceito de redução de riscos, que se torna um conceito mais amplo de redução de danos, quando se propõe a intervir na prevenção de potenciais situações de risco. O projeto nasce  com os seguintes objetivos:

  • Aproximar a psicologia da população em geral, levando psicoeducação, esclarecimentos sobre as diversas áreas de atuação da profissão às ruas da região amazônica, a construção de vínculos com a sociedade para o desenvolvimento de um campo onde ocorra a troca de saberes que possibilite a inter-relação entre o saber acadêmico e o saber popular;
  •  A divulgação da rede de assistência e os serviços oferecidos a pessoas com sofrimento psíquico;
  • Proporcionar aos estudantes de psicologia prática supervisionada que vise à redução de riscos e a produção científica em três eixos de pesquisa e intervenção, divididos em saúde mental, violências e vulnerabilidade social, contribuindo para o desenvolvimento de consciência social, ambiental e política, formando profissionais cidadãos. 

 

Para cumprir estes objetivos, ao longo desses quatro anos 30 intervenções foram feitas nos estados do Pará e Amapá. Hoje o projeto conta com 4 coordenadores, sendo:

  • Altiere Lima (2015-presente)
  • Lucas Dourado Leão (2015-presente)
  • Lívia Braga Bentes (2018-presente)
  • Yasmin Santana (2019)

 

Ao decorrer dessas trinta ações, desenvolveram-se e aperfeiçoaram-se quatro tecnologias de intervenção com a comunidade e uma tecnologia a ser ainda implementada, divididas em: 

Plantão Psicológico: o plantão psicológico é um processo de escuta psicológica emergencial focal a partir da solicitação espontânea da pessoa ou encaminhamento e tem por objetivo principal diminuir a angústia latente direcionando para processos de reflexão e informação sobre a rede de assistência particular ou pública aonde os acompanhamentos possam ser contínuos. Os atendimentos são realizados por profissionais e/ou estudantes de psicologia com supervisão clínica. 

Rodas de Conversa: as rodas de conversas são conduzidas por profissionais e estagiários de psicologia a partir de técnicas de dinâmicas de grupo que buscam o processo de reflexão e autorreflexão sobre a responsabilidade do sujeito a partir de vivências pessoais dos participantes sobre diversas temáticas.

Palestras: as palestras informativas são ministradas por profissionais e estudantes de psicologia com linguagem acessível à população em geral que vise aproximar informações científicas das práticas diárias das pessoas participantes com objetivo de prevenir a doenças sexualmente transmissíveis, informar sobre os direitos sexuais e reprodutivos, desconstruir preconceitos sociais sobre as vivências das sexualidades e prevenir as variadas formas de violências sexuais.

Material impresso e digital com informações sobre psicoeducação: Criação de banners, folders, cartilhas e publicações em redes sociais com conteúdo psicoeducativo.

Jogos Lúdicos: Pretende-se implementar a criação de jogos interativos que visam atender melhor as demandas de crianças, adolescentes e adultos, informando sobre saúde mental, prevenção a doenças, direitos em geral, desconstrução de preconceitos, prevenção a variadas formas de violências, entre outras temáticas.

O que você procura?


Parceiros Nacionais

Parceiros Internacionais